domingo, 13 de março de 2011

CURSO DE CAPACITAÇÃO EM SEXOLOGIA


CURSO DE CAPACITAÇÃO EM SEXOLOGIA
Horário: 3ª feiras às 13hs (1° Semestre de 2011 )
Local: Inst. Ginecologia/UFRJ – Hospital Moncorvo Filho
Público: profissionais da área de saúde
Inscrições no local

O curso de capacitação em sexologia para profissionais da área de saúde é uma DISCIPLINA ELETIVA DE SEXUALIDADE HUMANA - FM/UFRJ - FMG 352, irá acontecer no 1° Semestre de 2011 no  Inst. Ginecologia/UFRJ – Hospital Moncorvo Filho na Rua Moncorvo Filho n° 90. Centro. Junto à Praça da República no Rio de Janeiro.

Os Professores responsáveis são:  Jorge José Serapião (Médico e Psicólogo - Doutor Livre Docente em Sexualidade Humana) e Paulo Roberto Bastos Canella (Médico - Doutor Livre Docente em Ginecologia).

Terão  como Professores convidados:     Amaury Mendes Junior (Médico - Ginecologista -  Especialista em Sexualidade Humana), Elza Caloba  (Psicanalista), Flávio Roberto de C.  Santos (Psicólogo - Doutor em Saúde da Criança e do Adolescente), Isabel Delgado (Psicóloga), Maria Luiza Araujo  (Psicologa - Doutora em Filosofia), Pedro Jurberg (Doutor em Biologia).

As aulas expositivas serão as 3ª feiras às 13hs no Anfiteatro Arnaldo de Moraes.
Programação:
15-03 – Anatomia e fisiologia da sexualidade humana – Serapião
22-03 – Sexualidade através dos tempos – Maria Luiza
29-03 – Evolução da sexualidade – das amebas ao humano – Pedro Jurberg
 05-04 - O ciclo da resposta sexual humana - Flávio
12-04  – Determinismo, diferenciação sexual e intersexo - Canella
19-04 – Identidade, gênero e orientação afetiva sexual - Elza
26-04 – Evolução da sexualidade ao longo da vida – da criança à 3ª Idade - Serapião
03-05 – Reprodução e sexualidade – Canella
10-05 – Saúde, doenças ( inclusive DST ) e sexualidade - Serapião
17-05 – Sexualidade e os sentidos - Isabel
24-05 - Disfunções sexuais– Amaury
31-05 - Abordagem comportamental das disfunções sexuais – Maria Luiza
07-06 – Psicanálise e sexualidade - Elza
14-06 – Corpo, sedução, amor e sexualidade  - Flávio
21-06 –Terapia sexual – Serapião
28-06 - AVALIAÇÃO

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A ESCOLA E A EDUCAÇÃO SEXUAL DOS ADOLESCENTES

As questões ligadas a  sexualidade humana são, indiscutivelmente, uma das mais polêmicas do nosso tempo. A emancipação da mulher, o surgimento da pílula anticoncepcional, a liberdade dos meios de comunicação e o desenvolvimento de grandes centros urbanos contribuíram para a eclosão da chamada revolução sexual. O termo revolução nos fala, claramente, da subitaneidade dessas transformações geradoras de inúmeras controvérsias.  Em meio a essas inquietações a escola e a família co-responsáveis pela educação e orientação dos jovens, juntam esforços no sentido de vincular, ao conhecimento e a prática sexual, os ingredientes indispensáveis a conquista da felicidade desejada por todos - pais, educadores e, naturalmente, pelos próprios jovens.
Sem dúvida, aos pais e responsáveis cabem as primeiras ações educadoras. As crianças nascem sexuadas e os pais são, invariavelmente, seus educadores ( formadores de identidade de gênero e indicadores de papeis sexuais) .  Tais ações são responsáveis pela estruturação de um sistema de crenças e valores  ligados a sexualidade. A educação sexual não prescinde da participação dos pais, mesmo quando se delega, o que muito natural, parte dessa responsabilidade à escola.
Aqui cabe um oportuno esclarecimento. Há uma tendência moderna em se distinguir os termos educação sexual e orientação sexual.
Para alguns o termo orientação sexual significaria a responsabilidade da escola e da sociedade como um todo, de esclarecer e orientar para aspectos que objetivam  o exercício pleno da sexualidade do indivíduo. A orientação sexual respeita sempre o sistema crença e valores de cada um. Já, educação sexual, exercida pelos pais,  seria a responsável pelo desenvolvimento desse sistema de crença e valores que norteia a sexualidade do indivíduo adulto.
Para outros a distinção entre os dois termos traduziria uma amplitude de seus significados. Assim, o termo educação sexual seria mais empregado num sentido biológico e reprodutivo enquanto que a expressão  orientar para a sexualidade, implicaria em informar aos jovens sobre sua vida sexual; ajuda-los a fazer escolhas sexuais responsáveis ao longo de sua vida; ensina-los a lidar com problemas sexuais, infertilidade, gravidez não planejada, doenças sexualmente transmissíveis, prevenindo-os a longo prazo; torna-los mais sensíveis e conscientes de suas relações interpessoais contribuindo para o aumento da intimidade e satisfação em suas vidas; ajuda-los a fazer escolhas mais seguras nos tempos de HIV/AIDS e finalmente desenvolver neles um comportamento sexual interpessoal responsável.
Uma orientação para a sexualidade tem pois grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois independente da potencialidade reprodutiva, relaciona-se com a busca do prazer, necessidade fundamental dos seres humanos.
Em  relação aos adolescentes tais  aspectos se fazem  mais importante ainda. Afinal é nesse grupo etário que se estruturam, com mais nitidez,  traços da personalidade adulta.
Por outro lado vale destacar o fato de que o termo adolescente tem conotações diferentes em relação a seus limites de tempo segundo variáveis sócio-culturais. Assim numa faixa correspondente aos grupos sócio-culturais mais inferiores  a adolescência tem uma duração menor que os grupos de maior poder aquisitivo. Não é surpreendente pois que a adolescência nas classes sociais mais abastadas  inclua jovens freqüentando universidades o que amplia a responsabilidade da escola na formação desses grupos.   
Quanto aos pais, o comportamento em relação a educação sexual dos filhos é muito variável.
Entre os pais de adolescentes tal variabilidade se faz mais patente. Vai de uma atitude francamente repressora a atitudes obsessivamente estimuladoras. Frise-se que não falar sobre sexo é uma forma de estruturação de valores e portanto de educação sexual. 
Reconhece-se, no entanto, que somente uma minoria de pais provêem, satisfatoriamente, a educação sexual de seus filhos. Muitos se  limitam a fornecer informações do mundo do biológico.
Atualmente, a grande maioria reconhece a necessidade de desenvolver habilidades para falar com os filhos sobre o assunto. Aqui, talvez, a escola tenha a oportunidade de participar, agindo junto às associações de pais e responsáveis,  orientando-os na aquisição dessas habilidades.
Mas sem dúvida nos últimos anos, a participação da escola nesse processo, tem sido exigida de forma marcante pela sociedade. Como resultado vimos a, ainda polêmica,  determinação do Governo Federal de fazer constar o tema sexualidade dos novos parâmetros de ensino para o primeiro e segundo graus.
Assim, dentre as atribuições da escola ressalta-se, de pronto, a necessidade de um levantamento diagnóstico das necessidades e aspirações do alunado. De um modo geral, este mostra acentuado interesse e motivação pelo tema.
Por outro lado há ainda muita dúvida de como seria inserido o tema sexualidade no currículo escolar embora algumas posições estejam se consolidando.
Atualmente, existe uma tendência em se promover a  discussão e disseminação do conhecimento sobre sexualidade em todas as disciplinas ao longo do curso, apesar das críticas a essa estratégia principalmente no que se refere  a dificuldade de alguns professores em lidar com o assunto. Isto faz parte do que se denomina transversalidade na abordagem do tema.
Além disso deve-se evitar intervenções episódicas e descontínuas cujos resultados, a longo prazo, se mostram  desalentadores.
A educação formal deverá ser sempre  desenvolvida pelo binômio escola-casa embora alguns insistam em apresentar argumentos a favor e contra a participação da escola nesse processo. Um argumento estatístico  favorável é de que menos de 5% dos pais impedem que seus filhos participem de atividades educacionais sobre sexo quando elas são oferecidas nas escolas. Com  um argumento contrário se posicionariam grupos mais conservadores que crêem na possibilidade de que informações sobre sexualidade venham a despertar curiosidade indevida desencadeando nos jovens, prematuramente, uma atividade sexual.
Finalmente todos estão de acordo em que se busque a integração de professores, pais, alunos, escola e comunidade nesses projetos educacionais.
Quanto a seleção e organização de conteúdos, acredita-se que devam ser flexíveis as características e necessidades dos diferentes grupos. 
Alguns aspectos poderão, no entanto, serem ressaltados com vistas a um balizamento na construção desses conteúdos. Deve-se evitar priorizar os aspectos negativos da sexualidade que induzem a uma leitura preconceituosa de que sexo é ruim, sujo e cheio de culpa, bem como a transmissão de fatos meramente biológicos que conduzem a um reforço da leitura reducionista reprodutiva da sexualidade. Ao contrário, os currículos devem ser equilibrados e os recursos humanos suficientemente sensíveis para discutir, além dos problemas gerados pelo exercício da sexualidade, o amor, a intimidade e a responsabilidade interpessoal.
 Somente como ilustração listaríamos os seguintes tópicos compondo unidades:
1. Puberdade e Adolescência.
    - Anatomia masculina e feminina
    - Transformações bio-psicossociais
    - Sentimentos e dificuldades
2. Identidade sexual, Gênero e Orientação sexual
    - O que é ser homem. O que é ser mulher
    - Bases orgânicas e psicossociais do ser homem e do ser mulher
    - O papel dos diferentes atores sociais na formação sexual das pessoas.
3. Emoções e Sexualidade
    - Relações afetivas e relações amorosas
    - Apaixonamento, ficar e namoro
    - Atração e desejo sexual
    - Imagem do corpo
    - Reações ao diferente
4. A atividade sexual
    - Impulsos, sentimentos e sensações
    - Estímulos sexuais, excitação e orgasmo
    - A primeira relação sexual e seus significados
    - A resposta sexual. Alterações anátomo-funcionais
    - Comportamento sexual ( hétero/ homo/ bissexual )
5. Representação sócio-psicológica da realização sexual
    - Amor-encontro
    - Orgasmo e prazer
    - Formas de realização sexuais individuais e relacionais
6. Possíveis conseqüências da atividade sexual
    - Representação sócio-psicológica
    - Gravidez
    - Maternidade/paternidade e abortamento
    - Exposição às DST/AIDS
    - Disfunções sexuais
7. Saúde sexual e reprodutiva
    - Prevenção da gravidez não desejada: anticoncepcionais.
    - Prevenção de DST/AIDS: uso de preservativo.
    - Atitudes, práticas e comportamentos de risco.
    - Atitudes, práticas e comportamentos protetores
8. Drogas
    - Implicações na sexualidade
    - Efeitos psíco-fisiológicos
    - Tratamento
  
Em relação aos procedimentos de ensino, vale a pena ser destacado, que eles devam transcender a um mero informar.
Torna-se cada vez mais patente, que se deva utilizar recursos afetivos. As modificações de comportamento ocorrem mais facilmente quando se atua a este nível do que, quando se desenvolvem atividades puramente cognitivas. Esta afirmação é particularmente verdadeira em se tratando de orientação sexual para adolescentes.
Finalmente parece que todos estão de acordo com o fato de que a qualidade dos recursos materiais utilizados no processo ensino-aprendizagem, bem como os recursos humanos ( professores ) é, muitas vezes, deficiente. Cabe a escola priorizar a  utilização de recursos materiais adequados e inovadores, destacando, sobremodo, o empenho em se investir na formação de recursos humanos especializados. Sem a capacitação de professores todos os projetos de educação sexual estarão fadados ao insucesso.  
Particularmente vale citar o pioneirismo da Universidade Gama Filho com relação a implantação de um Mestrado em Sexologia. Este curso visa  habilitar profissionais, ao nível de pós graduação, para o exercício de terapia sexual ( médicos e psicólogos ) bem como de educadores sexuais ( psicólogos e educadores ). Esses últimos, cremos, além de potenciais pesquisadores, serão úteis em  atividades como a de supervisão continuada de professores, a de promoção de reciclagem desses profissionais bem como a  de formação de recursos humanos nessa área  o que corresponderia, a nosso ver,  a função  de  educadores sexuais com essa elevada capacitação.  Essa é sem dúvida uma forma objetiva da Academia participar e contribuir com a Escola na orientação  sexual dos adolescentes.



Bibliografia
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